sábado, 28 de maio de 2016


28 de maio de 2016 | N° 18537 
CARPINEJAR

A matemática do amor


Por mais que se perca a razão no amor, o sentimento guarda uma matemática secreta. Há uma equação escondida debaixo das tormentas do relacionamento. Ninguém levanta alicerces para o edifício das palavras e das juras a dois sem recorrer à trigonometria. Dentro da poesia aparentemente passional, caótica e temperamental da coreografia emocional, é possível localizar a precisão da engenharia e a sustentabilidade da arquitetura.

Na separação, eu realizo um cálculo objetivo que costuma funcionar. A felicidade sempre tem que pagar comissão para a dor. Não é uma taxa opcional – todos serão obrigados a participar.

É um coeficiente mínimo de esforço e sacrifício que cada um vai arcar para se desapegar do ex ou da ex. O separado precisa experimentar um isolamento e expiação proporcional ao tempo da relação. Se você viveu vinte anos com alguém, atravessará dois anos de luto. Se viveu dois anos com alguém, serão dois meses de luto. 

Se viveu dois meses com alguém, a conta de angústia fica em dois dias. Depois da alegria do banquete, cabe separar dez por cento da duração da união para o sofrimento. A saúde de um novo romance depende dessa estranha contabilidade. Encurtar ou alargar o período prejudicará o andamento das suas convicções – ou desistirá do romantismo ou emendará lastros com pessoas erradas e inoportunas.

O mundo adulto é feito de tributações. Onde predominou esperança restará um dízimo de frustração a quitar, onde reinou a ilusão sobrará o pedágio de desapontamento a superar, onde vigorou confiança aparecerão pendências para serem solucionadas. A fórmula da felicidade inclui tristeza e solidão com a ruptura. Depois de ser dois, voltar a ser um requer recuperar a metade doada.

O sofrimento é um garçom implacável de gravata-borboleta. Não achará forma de enganá-lo e fugir da dívida. Com o término do prazer e da idealização, ele estará diante de você com a caderneta preta da fatura na mão direita e a maquininha na mão esquerda:

– Crédito ou débito?

Melhor escolher o débito logo. Adiar o pagamento só aumentará os juros do recalque.

Mas há aquele que trai a objetividade e se separa dentro da relação. Parcela o fim em vinte e quatro vezes, a cada briga e discussão, e quando sai porta afora já não deve mais nada.

sexta-feira, 27 de maio de 2016


WALCYR CARRASCO
24/05/2016 - 08h00 - Atualizado 24/05/2016 17h02

A eterna busca de alguém

Casamentos não são mais feitos para durar. Insatisfações do cotidiano tornam-se fardos insuportáveis


Casais que duram a vida inteira são tão raros como zebras. Existem, mas são admirados como bichos no zoológico.

– Imagine, completaram 30 anos de casados! Os amigos, filhos, parentes aplaudem e tentam entender.

– Como se suportaram tanto tempo?

Nunca falta quem faça uma lista de defeitos dos cônjuges.

– Mas também aguentar aquele velho chato a vida toda!

– Ela manda nele, é insuportável.

Dor de cotovelo. Poucos conseguem manter uma relação durante tanto tempo. Mais complexo, há um consenso de que a separação é algo bom. Muitos filhos, inclusive, estimulam as mães a separar-se. Conheci um rapaz que fortaleceu as divergências entre mãe e pai. Depois da separação, o pai se recusou a dar pensão. Sobrou para ele, que trabalha que nem doido como comissário de bordo. A mãe faz o que pode, mas era dona de casa em tempo integral.

– É muito bom, ela está numa nova fase. Exatamente. Uma fase solitária. O filho voa de um lado para o outro, namora. Ela, à espera. Mas o rapaz anda insatisfeito:

– Agora que tenho de segurar as pontas da minha mãe, não posso casar!

Casamentos não mais são feitos para durar. Às vezes, nem dá tempo de os dois abrirem os presentes. Um casal de atores casou-se apaixonado. Na volta da lua de mel, ele se separou no aeroporto. Já estava com outra. Pequenas insatisfações do cotidiano, que no passado seriam absorvidas em nome da família, dos filhos, tornam-se fardos insuportáveis. Juro, é verdade: um conhecido sempre jogava a toalha molhada em cima da cama, ao sair do banho. Ela reclamava. 

Ele jogava. A toalha tornou-se motivo de disputa e tortura psicológica. Ela se separou antes de um ano de casada. Um rapaz namorou cinco anos com uma garota. Durante esse tempo, fumava e jogava baralho. Assim que se casou, ela passou a reclamar do cigarro. Ele parou. Em seguida, ela atacou o baralho. Ele deixou o grupo. Também parou de jogar futebol. Chegou a vez da sogra: ela não suportava. Depois dos cinco anos de amizade no namoro, as duas viviam um inferno. Ele se afastou da mãe. A mulher passou a reclamar da situação financeira. Ele arrumou outro trabalho. Cumpria dois períodos. Ela se separou:

– Você não me dá mais atenção. Vive na rua.

O marido de uma secretária que conheço perdeu o emprego. Aos 50 anos, é difícil arrumar outro. Ela manteve a casa. Ele montou uma van de hot dog. Não deu certo. Impossível segurar a família. Ela o atacou. Como se a culpa não fosse dele, da idade, da crise. Foi para a casa da mãe com as filhas. Mas a sogra não queria saber do genro. A última notícia que tive: ele foi morar na rua. O sonho de uma garota de Brasília era casar com um diplomata. Bastava pertencer ao Itamaraty, ela se interessava. Achou um. Seis meses de namoro, casaram-se. Não deu um ano e meio, separaram-se. O argumento da moça.

– Ele viaja demais. Mas não era diplomata?

Há homens que casam com uma garota de 20. Tudo é felicidade. Quando ela começa a amadurecer, separam-se. Ele arruma outra, de 20. E depois... é tudo igual. Suas ex-­mulheres formam uma escadinha de idades, frequentemente com o mesmo tipo físico.

É uma época de impaciência para com o outro. O amor é volátil, como um líquido que evapora ao contato com o casamento. Tanto que, nas plantas de apartamentos de luxo, vem a grande opção: um banheiro para cada um. Já ouvi de uma amiga:

– Eu não conseguiria continuar casada se tivéssemos o mesmo banheiro.

Que amor é esse, que depende do banheiro?

Todo relacionamento vive impaciências. Dificuldades. Pequenas chatices do dia a dia no passado seriam relevadas. Quando alguém se casava, queria que fosse para sempre. Atualmente, parece até que se separar é mais importante que casar. As pessoas acreditam que estão entrando numa nova fase, para preencher o vazio interior. Entram em cursos, buscam novos grupos de amigos. Mulheres mudam o penteado, homens correm para perder a barriga. E depois encontram alguém parecido com quem já tinham, pois a mudança foi somente exterior. Unem-se e, dali a pouco, a rixa recomeça.

A grande questão é que, para amar o outro, é preciso amar a si mesmo. Está difícil, em tempos tão contraditórios. Cada vez que alguém se separa e encontra outra pessoa, não é uma renovação em si. Mas o produto de uma insatisfação interior que não será resolvida pelo par. Resultado: ao primeiro deslize, a separação. Tem muito marido que já perdeu a mulher porque se esquecia de abaixar a tampa do vaso.

quarta-feira, 25 de maio de 2016


25 de maio de 2016 | N° 18534 
MARTHA MEDEIROS

Amor não retribuído

Basta uma mulher manifestar certa amargura e logo surge alguém para chamá-la, ofensivamente, de mal-amada. Pois então. É o que somos todas, mal-amadas. E todos os homens são também. De Norte a Sul, formamos uma população de mal-amados: o país não quer nada com a gente.

Desde que comecei a ter alguma noção de política (no meu caso, quando entrei na faculdade), mantenho uma relação de desconfiança com o Brasil. Sabia que ele havia feito sofrer muita gente antes de mim, um repressor sádico, que torturava entre quatro paredes. Eu o amei quando criança porque não o conhecia direito, até que cresci e ele pareceu crescer também, democratizando-se e passando a fazer promessas que eram tudo o que alguém apaixonado gostaria de ouvir.

O Brasil é um sedutor. No discurso, acena com reciprocidade. Necessidades básicas atendidas. Direito de ir e vir, liberdade de expressão, troca de ideias. Uma relação adulta, prazerosa, possibilitando que todos evoluam juntos. O amor ideal.

Mas o Brasil fala muito e faz pouco. O Brasil promete e às vezes chega perto de realizar nossos sonhos, mas logo reincide na cafajestada. Não sai da adolescência. Vive se deixando levar pela lei do menor esforço, querendo obter vantagens, sobrevivendo de conquistas rápidas e inconsistentes, deslumbrado pelo próprio poder e esquecido de suas obrigações. Um gargantão que às vezes dá a impressão de que virou gente grande, mas virou nada, é o mesmo moleque de sempre.

Diante desse descompromisso explícito por parte dele, nasceu nossa mágoa. O povo brasileiro, em sua maioria, hoje se comporta como quem levou um fora. Como quem teve seu amor recusado. E daí para ficar rancoroso é um passo.

A gente acreditou que iria dar certo. Acreditou que haveria futuro, uma relação sólida e para sempre. Que o visual exuberante, esse país tão belo, tinha também conteúdo, honestidade, ética, inteligência. Mas ficou só no desejo, não rolou. Todas as brasileiras são mulheres de bandido. Todos os brasileiros se envolveram com uma nação biscate. O Brasil não quer saber de relacionamento sério. É crau e fim. Não telefona nem manda flores no dia seguinte.

Cada um de nós ainda procura se apegar a algo que nos pareceu bom no início da relação com o país – o que pareceu bom pra você? Os militares? Sarney? Collor? Fernando Henrique? Lula? Deu em nada ou quase nada. Hoje estamos todos nos xingando mutuamente, numa ânsia desesperada de apontar culpados pela própria desilusão, sem perceber que temos algo profundo em comum: o ressentimento. Uma tremenda dor de cotovelo. Somos todos vítimas de um amor cívico que o país nunca retribuiu.

sábado, 7 de maio de 2016


Parabéns a todas as Mamães deste condomínio 
pelo Dia das Mães - Tudo de bom.