10 DE JULHO DE 2021
BRUNA LOMBARDI
REENCARNAÇÕES
Desde menina me pergunto por que existe tamanha desigualdade no mundo. Além do ponto de vista social, eu pensava no sofrimento humano. Por que uns sofrem em vidas tão trágicas, enquanto outros enfrentam mais leves tempestades? São as Moiras tecendo o fio inexorável do destino, como acreditavam os gregos na antiguidade?
Já nas minhas primeiras entrevistas, ao falar da minha infância e família e eu respondia com um verso do Murilo Mendes, um dos meus poetas favoritos: "Muita coisa sofro pelos outros / Eu mesmo nem sofro às vezes".
Agora, muitos anos depois, sinto gratidão por tudo o que me fez sofrer e me trouxe maior compreensão e compaixão. Certamente tenho, ao longo da vida, sofrido muito mais pelos outros do que por mim mesma.
Mas o que determina os acontecimentos no nosso caminho? É sinal de Deus, da sua vontade? Na mitologia, os deuses caprichosos e vingativos prestavam atenção a qualquer desobediência ou rebeldia e a punição vinha como um raio.
Ou serão as reencarnações que tantas doutrinas e filosofias defendem? Haveria um eterno retorno de uma prestação de contas existencial?
Platão dizia que "é através da alma que o homem conhece". E é através da alma que o homem se conhece e é conhecido. Para quem lê o outro, basta olhar alguém nos olhos, que são eles que refletem a alma. Por isso, quando alguém não quer ser descoberto, instintivamente desvia o olhar, já repararam? A alma sempre se expõe no fundo do nosso olhar.
Fala-se de reencarnações desde os antigos egípcios, segundos os quais a alma poderia reencarnar em qualquer criatura, da terra, do ar, da água e, por isso, tantas delas eram sagradas. Nos nossos ciclos reencarnatórios, vamos pagar pelas faltas cometidas nas vidas passadas, pois aquilo que a alma carrega é indelével.
No Oriente, em muitas tradições indianas o conceito de reencarnar é fundamental. Está na base das religiões que determinam o comportamento da sociedade.
No hinduísmo, no budismo, na cabala, nos druidas do paganismo celta, no hermetismo, na tradição dos orixás e de muitos povos indígenas, no espiritismo e em tantas religiões e seitas, as reencarnações seriam uma espécie de purificação das almas. Uma transmigração, onde cada ação geraria seu carma e ficaria anotada na grande computação do universo.
Quando o coração da pessoa finalmente está purificado, as manifestações do divino se refletem no seu destino e o ser humano ascende, da sua natureza inferior e primitiva, para o nível mais elevado do ser. O eterno retorno, o eterno renascer seria um exercício de transcendência para a libertação espiritual de todo sofrimento.
Depois do século 16, a palingenesia (genesia: nascer, palin: de novo) foi considerada doutrina científica na alquimia, e Paracelsus e outros tiveram uma enorme influência nos pensadores, filósofos, poetas e romancistas modernos.
Seja como for, nem crentes nem céticos compreendem o destino. E cada um de nós, acreditando ou não nisso tudo, pode ter a cada dia uma nova chance de ajudar a escrever a sua jornada.