quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Assalto em condomínio

Ladrões se passam por moradores para entrar e roubar

Publicado em: quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Ladrões se fazem passar por moradores para roubar condomínios em SP




Muitos adolescentes distraem porteiros e moradores para entrar e roubar dinheiro e joias dos apartamentos; Veja vídeo.
Ladrões estão se passando por moradores para conseguir entrar nos prédios e assaltar apartamentos em São Paulo. O vídeo acima mostra a ação dos bandidos que enganam os porteiros e entram nos condomínios para furtar.
Um dos casos foi no Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo, no dia 24 de agosto. Um homem de camisa preta chama o porteiro e diz que um morador deixou um bilhete para ele, enquanto outro chega e pede para entrar. O porteiro libera a entrada.
Câmeras de segurança mostram o rapaz subindo o elevador atéo no no andar, sai do prédio e volta com um comparsa.
Os dois vão novamente ao nono andar e saem com uma bolsa da moradora cheia de dinheiro e jóias.
Prédios da Vila Leopoldina e do Alto da Lapa, na Zona Oeste, distribuem avisos alertando a presença de uma mulher bem vestida que diz ter se mudado recentemente para o prédio para entrar junto com alguma moradora.
Pega o elevador junto com a moradora e quando chega ao apartamento, anuncia o assalto.
Em Cangaíba, na Zona Leste, um rapaz entrou no prédio conversando e mexendo no celular, arrombou um apartamento e roubou pertences do morador.
Na Vila Matilde, um adolescente foi apreendido por roubar dois apartamentos com um comparsa. As vítimas postaram vídeos nas redes sociais e localizaram o adolescente.
Ele estava em um carro com a mãe. A polícia foi chamada. Ele não soube explicar de onde vieram os objetos.
Os pais do adolescente assinaram um termo de responsabilidade e ele foi liberado. A Polícia Civil disse que o assalto ao condomínio do Jabaquara foi esclarecido e a quadrilha foi indiciada.
Disse ainda que não encontrou registro de furto ao condomínio no Cangaíba. Desde o começo do ano, o Deis prendeu 32 pessoas por furto e roubos em condomínios.

sábado, 14 de outubro de 2017



14 DE OUTUBRO DE 2017
LYA LUFT

Os iconoclastas e um vaga-lume


Na última semana, escrevi, quinta-feira (como interina do Verissimo, que está de férias), que andamos demasiadamente parecidos com aquele burro falante que meu pai gostava de mencionar: fala alto, muitas palavras, grande convicção, feliz da vida..., sobre assuntos de que pouco ou nada sabe. Ou "para se fazer de interessante!", dizia minha mãe, já que hoje dei pra citar os pais.

Mais se entusiasma ainda essa criatura quando, achando-se original, segue uma parte da manada derrubando conceitos sem analisar, dando pontapés em filosofias sem entender, fazendo suas necessidades 1 e 2 em cima de coisas que nem consegue avaliar. Algumas manifestações de leigos ou artistas nesses dias me impressionaram, como alguém comendo (espero que de mentirinha) um absorvente de onde escorria sangue (espero que falso). A que levaria isso? Por que estamos tão agressivos, dispostos a decepar cabeças e cuspir nos outros? Por que assumimos essas brigas e cruzadas hiperbólicas? Inquietação, medo, indignação, decepção - confusão mesmo?

Falando com um filósofo (de verdade...) outro dia, ele me lembrou de que estamos mais para iconoclastas do que para criadores de boas coisas. Tanto se desfez o conceito de arte, tanto se destruiu, tanto bancamos os moderninhos e seguimos - sem informação e humildade, essenciais - o que nos pareciam novidades luminosas, que aos poucos tudo foi-se esboroando. Cada um fala o que quer, apresenta o que bem entende, e ai de quem não considerar arte panela de fezes ferventes, pingolim cortado e outras belezas.

Se estranhamos, vêm os que vociferam: então vocês defendem a censura? Então vamos quebrar o David de Michelangelo, cobrir teto e paredes da Capela Sistina... e outros delírios mais. Um momento, gente! Um pouco de bom senso e humildade faz bem! Ninguém pensa em censurar arte. Por outro lado, nem todo mundo quereria suas criancinhas induzidas a manipular uma pessoa nua (que não é uma escultura...). 

Em muitas casas, nudez é natural. Não em todas. Então a primeira lei seria respeitar as diferenças de costumes, assunto do dia - o que acho muito bom! Mas não precisamos exagerar. Logo, quem não é gay nem trans nem bi ou poli será objeto de preconceito e terá de sair às ruas para se defender. Que cansaço.

Melhor prestar atenção no que acontece aqui neste pobre país, onde até no Supremo reina confusão, onde está quase decretado que raposas serão julgadas por raposas, e as galinhas vão se ferrar de maneira fenomenal. Onde a miséria reina, gente morre de falta de higiene, mulheres dão à luz no chão, velhos morrem em macas, crianças estão sem escola, e corremos nas ruas como ratazanas caçadas.

Mas fiquei feliz na última semana com a conversa, na Federasul, no Tá na Mesa: carinho, respeito, cumplicidade, ótimas perguntas, e a sensação de que, sem romantismo algum - como é meu caso em relação ao país -, sempre há uma luz logo ali. Pode ser só um vaga-lume... mas é luz.

lya.luft@zerohora.com.br



14 DE OUTUBRO DE 2017
MARTHA MEDEIROS

KEEP CALM e não vire um reaça

Aquele carrancudo que entrou e saiu do elevador sem dar bom-dia não tem nada contra você, o problema é que ele, além de não ter o hábito de ser cortês, descobriu ontem à noite que a mulher com quem casou há dois anos tem um amante.

O apressadinho que está buzinando de forma alucinada atrás do seu carro não tem nada contra você. Além de ser naturalmente mal-educado, ele dormiu apenas três horas esta noite e não tomou café da manhã, o que não colaborou para melhorar seu precário humor.

A mulher que postou na sua página do Face uma ofensa despropositada porque discorda das suas ideias não está com raiva de você, ela nem entendeu direito o que você quis dizer, aliás, ela nem sabe quem você é. A coitada não se conforma de nunca ter passado num concurso público e esse frustração transformou a mulher num azedume ambulante.

O cara que furou a fila não está competindo com você, ele já perdeu pra si mesmo faz tempo. O chato que conta piadinhas machistas não está querendo provocar você, é que o infeliz não pega ninguém. O colega que questiona tudo que você faz não está querendo importunar você, óbvio que o sujeito tem baixa autoestima. Aquele olhar atravessado que a passageira do ônibus deu pra sua roupa não é uma crítica a você, ela é que não tem coragem de se expressar com mais criatividade.

Somos todos inocentes das neuras, traumas, complexos e distúrbios alheios. Se a pessoa surta, se a pessoa faz estardalhaço, se a pessoa briga por qualquer coisa, não é contra você nem contra mim, a encrenca é com ela mesma. Taí uma fórmula precária, porém bem intencionada, de colaborar com a paz no mundo: não dê trela.

Mantenha a calma e reserve toda sua indignação para quem está realmente atrapalhando sua vida com total consciência disso. Política, sim, é sobre você, sobre mim, sobre nós todos, não tem atenuante. É com essa corja que temos que nos entender - ou nos desentender. Mas com inteligência. 

Não caia na conversa de qualquer oportunista que surgir com um discurso preconceituoso e radical, tipo um Trump tupiniquim, destes que prometem colocar ordem na casa, mas que não passam de ignorantes que só aprofundam o atraso da nação. Você não precisa decidir agora em quem votará para presidente em 2018. Cuide para não ser reacionário, porque a tentação é grande. 

O país está nervoso, e a tendência é confundir ditadura e conservadorismo com salvação. Não dê aval para este brutal retrocesso. Não acredite em mitos, em frases de efeito, em extremismos. Aguarde até saber quem serão os candidatos, qual o comprometimento de cada um deles, seu passado, seu currículo, suas propostas de desenvolvimento econômico e inclusão social, e aí sim, pense, pondere e dê o troco com sanidade - não com desespero.

MARTHA MEDEIROS


14 DE OUTUBRO DE 2017
CARPINEJAR

SHIMEJI OU SHITAKE?

Quando abrimos o cardápio de um novo restaurante japonês, eu e minha esposa não lembramos se gostamos de shimeji ou shitake. Como que esquecemos de novo? Paramos com o dedo entre as duas porções de cogumelos. Qual será mesmo a de nossa preferência? Shimeji ou shitake na manteiga?

Sofremos de um lapso mútuo, de um Alzheimer amoroso. E vacilamos o pêndulo da mão diante dos números dos pratos.

- Não acredito que não me lembro - diz Beatriz. - Não acredito que também não me lembro - respondo. Já comemos dezenas de vezes. É, inclusive, um de nossos menus prediletos, ao lado do carpaccio de salmão, do guioza e do sashimi.

Porém, há um bloqueio inexplicável de nossa parte. Não guardamos os dados. Somos um Google offline naquela hora.

Coisa estranha. Raciocinando em perspectiva, não é um fato isolado. Existem lembranças que não se fixam por algum motivo inaudito. Registros impossíveis de se decorar. Pode ser um telefone discado com frequência que não entra na cabeça de jeito nenhum. Pode ser o nome de uma cidade recorrente que escapa das sinapses.

Surpreendente é o esquecimento mútuo, o esquecimento sincrônico, eu e ela repetindo a dúvida pela enésima oportunidade.

Chamamos sempre o garçom para esclarecer o dilema. - Qual dos dois é o menor? - questionamos. - O shimeji - o garçom explica. - Queremos o shimeji! - exclamamos em uníssono.

Batemos palmas, gritamos gol, festejamos com beijos. O atendente deve se espantar com o nosso contentamento, exagerado para uma informação trivial.

É que o alívio dá realmente um barato próximo da droga - assim como espirrar é bom, por mais desagradável e barulhento que seja.

Desobrigar o cérebro a mais uma tarefa traz leveza e picos de endorfina.

Rimos sem parar dali por diante, nunca duvidando de que o nosso amor é o grande. A gente nunca erra esse pedido.

CARPINEJAR


14 DE OUTUBRO DE 2017
PIANGERS
Meu próprio pai

Quando eu ainda tinha mãozinhas gordas e bracinhos fofos, me lembro de levar até a minha mãe meu cobertor favorito. Ela chorava na cama uma desilusão amorosa. Lembro que ela sempre chorava quando eu lhe pedia pra ter um pai. Ela chorava quando estávamos sozinhos em casa. Percebi que era algo forte demais pra pedir. Ter um pai. Eu queria ter um pai que me pegasse no colo na saída do colégio. Que me ensinasse a fazer uma pipa. Que passasse a mão na minha cabeça, como via o pai dos meus amigos fazer. Que me assistisse em apresentações escolares. Eu queria ter um pai porque todo mundo tinha pai menos eu. Porque eu queria ser normal.

É algo injusto de se pedir pra uma mãe. Percebo só agora. Ela se esforçou pra manter relacionamentos nos quais sofria, pra me dar um pai. Aguentou traições. Finalmente, convenceu um namorado a me registrar no cartório. Era pra ser meu pai. Mas nunca tive pai. Nunca dormi abraçado com um pai. Nunca ouvi "eu te amo" de um pai. Essas coisas que os pais fazem com os filhos. Nunca tive um pai me trazendo remédio pra tosse. Aprendi a andar de bicicleta depois de velho, com um amigo. Aprendi a dirigir com 20 anos. Nunca torci para um time de futebol, realmente. Essas coisas que os pais fazem com os filhos.

Cresci inseguro. Como todo inseguro, agressivo. Tinha problema com autoridade, especialmente masculina. Desafiava professores na faculdade. Desrespeitei chefes nos meus primeiros empregos. Sentia a necessidade de agredir os outros com comentários malvados, com piadas pesadas. Acho que me transformei em uma pessoa desagradável. Tive a sorte de conhecer uma mulher especial, de me reconectar com a minha mãe, de ter duas filhas que me ajudaram a ser quem eu posso ser. Não precisava mais agredir ninguém. Me dedicar a elas me curava todos os dias.

Não faz muito tempo, ouvi uma história linda de um pai. Quando o filho de sete anos brincava de skate, caiu, ralou o joelho e começou a gritar de dor e susto. Naquele momento, o homem me contou que se lembrou dele mesmo, quando criança, ralando o joelho e ouvindo do pai: "Não chora! Homem não chora! Engole o choro!". Com seu próprio filho, ele resolveu fazer diferente. Abraçou a criança e disse: "Pode chorar, filho. Eu sei que dói. Papai está aqui". E enquanto a criança parava de chorar, o pai chorava, emocionadamente. Lembrando do seu próprio pai. Imaginando seu próprio pai fazendo diferente. Ele estava curando seu trauma. Ele estava abraçando ele mesmo, quando era criança.

Quando durmo abraçado com minhas filhas estou dormindo comigo mesmo, quando eu era criança. Estou sendo o pai que eu não tive. Estou sendo meu próprio pai. Estou sendo alguém que minha mãe sempre quis pra ela. Alguém que sempre quis pra mim mesmo.

Enfim, conseguimos, mãe.

PIANGERS