Medo
e ansiedade com a crise do coronavírus?
Conselhos dos psicólogos para
tranquilizá-lo
Prestar
atenção aos cuidados relacionados à prevenção da transmissão e tentar manter a
calma estão entre os principais fatores, de acordo com os psicólogos
14 MAR
2020 - 17:22BRT
AGENCIA
GETTY
Diante
da incerteza gerada por esse tipo de situação de emergência sanitária e de
reordenamento social, o Colégio de Psicólogos de Madri divulgou um comunicado
nesta semana para ajudar a superar o mal-estar emocional, oferecendo conselhos
para quem tem e para quem não tem relação direta com o vírus
MAIS INFORMAÇÕES
A woman, wearing a face mask, walks
past a sign guiding people to the entrance of a corona testing station at the
Vivantes Wenckebach hospital in Berlin on March 13, 2020. - German Chancellor
Angela Merkel called on organisers of non essential events gathering hundreds
of people to cancel them to help slow the spread of coronavirus. The regional
governments of Germany's 16 states will decide if they want to shutter school
gates according to the local situation, Merkel said on March 13, 2020, adding
that an option could be to bring forward April's Easter school holidays. (Photo
by Odd ANDERSEN / AFP)
Pandemia
de coronavírus: o que você precisa saber para se proteger
Se
você não foi afetado pela doença
A
ansiedade pode se manifestar de várias formas: nervosismo, agitação, estado de
alerta; não conseguir pensar em outra coisa; necessidade de ver e ouvir
constantemente informações sobre o coronavírus; dificuldade para realizar
tarefas diárias. Também é percebida nas pessoas que estão com problemas para
adormecer e que “acham difícil controlar sua preocupação e perguntam
persistentemente aos familiares sobre seu estado de saúde, alertando-os sobre
os graves perigos que correm toda vez que saem de casa”.
Diante
dessa situação, o Colégio de Psicólogos propõe:
Identificar
pensamentos que possam lhe causar mal-estar. “Pensar constantemente na doença
pode causar o aparecimento ou o aumento de sintomas que ampliem seu mal-estar
emocional.”
Reconhecer
nossas emoções e aceitá-las. “Se necessário, compartilhe sua situação com os
mais próximos para encontrar a ajuda e o apoio necessários.”
Questione:
procure provas de realidade e dados confiáveis. “Conheça os fatos e dados confiáveis
oferecidos pelos meios de comunicação oficiais e científicos e fuja de informações
que não provenham dessas fontes, evitando informações e imagens alarmistas.”
Informe
seus entes queridos de maneira realista. “No caso de menores ou pessoas
especialmente vulneráveis, como idosos, não minta para eles e forneça explicações
verdadeiras, adaptadas ao seu nível de compreensão.”
Evite
informações em excesso. “Estar permanentemente conectado não o deixará mais bem
informado e poderia aumentar desnecessariamente sua sensação de risco e
nervosismo.”
Comprove
a autenticidade das informações que você compartilha. “Se você usa as redes
sociais para se informar, procure fazê-lo com fontes oficiais.”
Como
cuidar de si mesmo nestes casos: os colegiados da Comunidade de Madri
recomendam manter “uma atitude otimista e objetiva”. Evite falar o tempo todo
sobre o assunto, apoie-se na família e nos amigos e ajude a família e os amigos
a manter a calma e um pensamento “adaptativo a cada situação”, além de tentar
levar uma vida normal na qual não se alimente o medo dos outros.
Se
você pertence à população de risco, de acordo com as autoridades sanitárias
O
Colégio de Psicólogos propõe:
Siga
as recomendações e medidas de prevenção determinadas pelas autoridades sanitárias.
“Confie nelas porque sabem o que fazer. Têm o conhecimento e os meios”.
Informe-se
de forma realista. Não trivialize seu risco “para tentar evadir a sensação de medo
ou apreensão com a doença”. Tampouco o amplifique. Seja cauteloso e prudente
sem se alarmar.
Se
lhe recomendarem medidas de isolamento, lembre-se de que “é um cenário que pode
levar você a sentir estresse, ansiedade, solidão, frustração, tédio e/ou irritação,
juntamente com sentimentos de medo e desespero, cujos efeitos podem durar ou
aparecer mesmo depois do confinamento. Tente se manter ocupado e conectado com
seus entes queridos.”
Crie
uma rotina diária e aproveite para fazer as coisas que você gosta, mas que
geralmente, por falta de tempo, não pode fazer (ler livros, assistir filmes,
etc.).
Se
você está sofrendo da doença
Além
de seguir as recomendações acima, os colegiados indicam vários pontos
importantes para o autocuidado: Administre
seus pensamentos intrusivos. “Não se ponha na pior situação antecipadamente.”
Não
se assuste desnecessariamente. “Seja realista. A imensa maioria das pessoas está
se curando.”
Quando
sentir medo, conte com a experiência que você tem em situações semelhantes. “Talvez
agora não associe isso por ter uma percepção de maior gravidade. Pense quantas
doenças você superou com sucesso na vida.”
O
telefone como foco de ansiedade
“Tenho
ansiedade porque todas as conversas, grupos de WhatsApp, noticiários e
timelines das redes sociais (bem, menos o Instagram, que como sempre faz o que
quer) são sobre o mesmo assunto. Não é possível escapar do circuito em nenhum
momento”, explica Lucía Benito, uma barcelonesa grávida de cinco meses que
sofre de mal-estar emocional e físico devido ao ciclo de informações e ao
alarme sanitário do coronovírus. Lucía, como boa parte da população, trabalha
remotamente de casa. “Como grávida, sinto falta de mais informações específicas
sobre como isso nos afeta. Li coisas contraditórias sobre os efeitos do vírus
na gravidez.
Tenho um pouco de taquicardia à noite (embora seja normal tê-la
durante a gestação) e é difícil me concentrar no trabalho”, acrescenta. Lucía não
está sozinha. “Não assisto televisão, mas é impossível me isolar, minha
ansiedade disparou”, explica Cristina González, assistente social de uma
prefeitura da província de Barcelona. O coronavírus invadiu grupos de conversas
familiares em que abundam áudios com boatos sobre supostos transbordamentos nos
hospitais. Está em fotos de supermercados vazios que viralizaram e que
ridicularizam certos setores da população. Também em memes racistas sobre a
epidemia, é o protagonista dos surtos de histeria nas conversas de WhatsApp,
onde se especula sobre supostos fechamentos do espaço aéreo ou de fronteiras
sem qualquer confirmação oficial ou governamental.
Abrir
as redes sociais hoje em dia não é uma tarefa fácil, especialmente para quem
tem altos níveis de ansiedade. “Sinto-me exausta, minha cabeça vai explodir. Estou
trabalhando de casa e me conectar às redes ou olhar para o meu celular gera
muitíssima ansiedade”, explica Laura Montes, trabalhadora do setor de comunicação
de 38 anos. Sua situação a inclui na população de risco. “Pacientes com
transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou ansiedade generalizada são população
de risco psicológico no momento e estamos recebendo muitas perguntas sobre a
incerteza causada pelo coronavírus. Tanto para eles quanto para os outros é importante
manter a calma, não se alarmar e seguir as recomendações das autoridades sanitárias”,
aconselha a psicóloga Silvia García Graullera, especialista em transtornos de
ansiedade e diretora do centro PSICIA.
Aprender
a reconhecer seus medos
“O
medo não é uma emoção ‘ruim’ em si”, esclarece o psicólogo Rafael García. “O
que é ‘ruim’ é que apareça quando não é adaptativo (em uma situação em que não
corremos risco); que não apareça quando seria adaptativo se ocorresse (em situação
de risco) ou que apareça com uma intensidade tal que nos bloqueia”, alerta
antes de analisar a sensação de mal-estar emocional generalizada pelo alarme
sanitário. Uma situação excepcional em que a disparidade social e de assistência
também influenciam. Não é a mesma coisa enfrentar um chamado à reclusão tendo
que cuidar das crianças e fazer teletrabalho sem nenhum tipo de ajuda do que
com a possibilidade (e dinheiro) de tê-la.
Nossas
experiências e traumas do passado também podem influir de forma problemática
nesse período extraordinário. “O fato de termos vivido situações traumáticas (no
caso que nos diz respeito, falaríamos de doenças próprias ou alheias ou de
mortes de entes queridos) pode alterar a relação que temos com o nosso mundo
emocional e, a partir daí, viver o medo, neste caso, de um lugar inapropriado”,
adianta. Para García, o importante é colocar o medo no contexto que estamos
enfrentando no momento. “Para administrar a ansiedade diante do alarme sanitário,
acho que seria importante que cada um escutasse a mensagem do seu medo. Esse
medo seria de se infectar e morrer, de se infectar e matar, de nossos entes
queridos serem infectados, de perdas financeiras, de isolamento, de estar
desabastecido, de rejeição, de não poder assumir responsabilidades de cuidados...?
Seria importante conhecer esse medo: se é um medo antigo; se é novo ou se você aprendeu
com alguém”.
Controlar
o consumo de informações (com fontes confiáveis)
Os
conselhos de García envolvem contextualizar nossos medos e tentar acalmá-los
com “recursos pessoais que nos regulam emocionalmente” e um consumo limitado de
notícias, colocando o foco nos meios de comunicação oficiais. “A busca
excessiva por informação é uma ação que nos oferece controle para acalmar o
medo, mas paradoxalmente o aumenta, pois alimenta o obsessivo diante do
racional. Fazer uso adequado das informações (especialmente as provenientes da
mídia oficial) e conceder-lhes um espaço mental também adequado pode nos ajudar
a transitar pelas circunstâncias atuais da maneira mais saudável possível.”
Buscar
fontes confiáveis é outra recomendação da psicóloga Yolanda Cuevas Ayneto. “Devemos
limitar a exposição aos meios de comunicação. As informações nos dão segurança,
mas se nos empanturramos, nos confunde e aumenta a vulnerabilidade. Mas lembre-se,
ser vulnerável não anula seus recursos”, ressalta. A psicóloga, como remédio,
aconselha “praticar o autocuidado” nesse estado excepcional com o
autoconhecimento. “Você pode aprender a acalmar sua mente desses pensamentos de
ansiedade antecipatória, pensamentos alarmistas e pessimistas. Você pode se
conectar à sua respiração, sentir o ar entrando e saindo, seu percurso e toda
vez que você cair nesses pensamentos, volte sua atenção para o nariz, esse
lugar por onde o ar entra e sai. Repetidas vezes, sem se deixar levar pelos juízos.
Não se trata de não ter pensamentos, mas de saber acompanhá-los e soltar”.
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