Sendo síndico um cargo político, nem todos estão preparados
A partir da etimologia da palavra "síndico", advogado reforça que não é todo mundo que pode ocupar o cargo, citando os requisitos indispensáveis para o verdadeiro gestor
Por Gustavo Camacho*
O síndico é um político em sua essência, devendo servir como instrumento da Justiça junto a sociedade na qual atua
Com o mercado condominial em expansão e a crescente demanda por síndicos profissionais, muitas pessoas têm se interessado em ocupar a função de síndico. Mas, será que qualquer pessoa possui virtudes para ser um síndico?
Assim como em qualquer outra atividade profissional, é indispensável que o indivíduo conheça a si mesmo e encontre na motivação interior, o seu propósito de vida, aquilo que justifica a sua existência e o faz levantar da cama todos os dias, independentemente das circunstâncias.
O indivíduo que conhece o seu propósito acaba por não se apegar aos elementos exteriores e efêmeros, eis que impõe a sua vontade para exercitar o caminho almejado em busca da expressão de um ideal.
Já quem desconhece suas motivações interiores, vincula-se facilmente aos elementos exteriores, derivados dos desejos corporificados nos resultados de suas ações, tais como bens materiais, prestígio, poder, etc.
Há que se ressaltar que aquele que não cumpre o seu propósito trai, não apenas a si próprio, mas a toda a sociedade que deixa de ter os seus melhores frutos.
Vincular-se aos desejos e as paixões materiais e traçar metas físicas e financeiras, bem como abrir campo para a corrupção, rompendo valores éticos e morais de um indivíduo sob o argumento de que um objetivo exterior poderá ser alcançado mais brevemente, tem um alto custo.
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Trabalhar com esta mentalidade é aguardar para viver os prazeres exteriores da vida, pois, aqui neste cenário, o enfoque é o resultado e não as experiências obtidas durante o percurso - mentalidade que conduz o individuo à uma prisão mental cujo carcereiro é ele próprio. De fato, conhecer o seu propósito leva o indivíduo a viver o trabalho e não apenas sobreviver dele.
E o que o síndico tem haver com tudo isso?
De acordo com a tradição filosófica clássica, existem 4 ideias superiores junto ao plano não manifestado:
(A) Beleza
(B) Bondade
(C) Verdade
(D) Justiça.
Estas quatro ideias, plasmadas no mundo manifestado representam:
(A) Artes
(B) Religiões
(C) Ciências
(D) Política
Sim! A política vincula-se a ideia de Justiça, conforme demonstrado pela representação abaixo:
Em que pese o vocábulo político seja hoje sinônimo de descrédito, a sua origem deriva da palavra pólis (antigas cidades/estado gregas). O político é aquele responsável por cuidar da pólis/cidade, sempre com a ambição de fazer mais e melhor, subjugando as suas próprias paixões em vista dos interesses da coletividade, motivando sua existência para servir.
A degradação da função da real política é capitaneada pelos politiqueiros, que se fecham em si próprios, por isso, eram chamados pelos gregos de idiotas, com a ganância de obterem resultados pessoais, a fim de que da sociedade possam servir-se.
Por isso, o síndico é um político em sua essência, devendo servir como instrumento da Justiça junto a sociedade na qual atua. Exatamente por este motivo, da análise etimológica, verifica-se que o substantivo síndico deriva do grego Syndikos, que significa: o patrocinador da Justiça.
Assim, para que esteja apto a ser síndico, o indivíduo deverá ter ciência de que o artigo 1348 do Código Civil é uma baliza mínima de suas responsabilidades, motivo pelo qual tornam os requisitos abaixo indispensáveis aos verdadeiros síndicos que desejam liderar e inspirar pessoas:
(I) conhecer-se a si mesmo,
(Ii) para que possa exprimir o seu real propósito de vida,
(Iii) sendo um efetivo instrumento do arquétipo da Justiça junto a sociedade.
(*) Gustavo Camacho é advogado sócio do Karpat Sociedade de Advogados, em Santa Catarina.
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